aqui embaixo, a gente se vende por tão pouco. a gente se deixou enganar pela ordem de grandeza das coisas e já não tem olhos sensíveis o suficiente às palavras, às letras, aos sons, às cores, tudo isso que dialoga com o silêncio literalmente mortal do qual fugimos (que não é necessariamente ausência de barulho, a propósito, porque também está nas músicas e nas risadas, e nos sussurros, e em todo timbre).
aqui embaixo, só queremos saber de gritos que mascarem nossa infelicidade, nossa carência, nossa insuficiência.
os que se atrevem a viver ouvindo o silêncio estão loucos ou tristes.
só uns poucos versam com drummond uma filosofia de mãos dadas: taciturna, mas nutrindo grandes esperanças. sem pressa. no tempo: não acima dele (porque somos só humanos), mas apesar dele, e talvez, ao aceitar a efemeridade sem medo, mais inserido nele do que qualquer outro que grite em vão.
até a efemeridade vai passar, até a morte vai morrer, e é mais ou menos por isso que esses últimos cantam: o presente é tão grande. não nos afastemos muito.
nutrir grandes esperanças em tempos tão corridos é graça de quem viu a eternidade nos olhos de Deus.
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