quarta-feira, 6 de novembro de 2013

indissociavelmente pai.

tem esse homem, e eu conheço os traços de suas rugas, o timbre da sua voz, o ruído das sandálias dele pela casa. eu reconheço a forma que ele mastiga a comida, seus hábitos, a mania de olhar por cima dos óculos que eu peguei. eu sei como ele dorme. eu sei como ele lida com o dinheiro e sei como ele gosta de abraçar gente. ele trabalha com dor de cabeça, ele sonha, devaneia, e ouve música antiga calado na sala às vezes. ele é o tipo de homem que ouve minhas músicas, apesar disso. eu vejo coisas nele que eu amo e que eu não entendo e que eu não gosto e eu olho pra mim e ele está aqui. tem a ver com os meus genes que eu herdei dele, e também com toda uma neurociência sócio-psico-comportamental que agora, surpreendentemente, não me interessa, porque mil cientistas não me roubam a certeza de que é sopro divino (como tudo o que é divino, impronunciável) o que mais define a natureza dessas semelhanças. e eu olho fixamente para o seu rosto. e eu não vejo mais seu rosto. eu vejo um sentimento. não consigo mais dizer sobre sua fisionomia. não consigo mais notá-la. não sei descrever sua anatomia. s você me perguntar o que eu vejo quando estou olhando pra ele, por cima de um monte de histórias e sensações incabíveis nesse discurso, vou te dizer que ele é meu pai. mas você nunca vai saber do que eu estou falando.

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