Porque nesse mundo a gente não perde nada. A gente não ganha nada. A gente reage, interage, inverte, troca e transforma o que sempre existiu.
Reciclo-me. Porque se não me refizer com o que tenho hoje, agora, o Universo não será sustentável. Porque não tenho outro lugar para buscar material para que caibam essas ideias. Porque os seus sonhos pra mim não são só imateriais (todos os sonhos deveriam ser assim!), são impossíveis.
Porque o lixo que me habita é meu, e eu não posso varrê-lo pra debaixo do tapete, nem você pode continuar declarando que ele não existe.
Somos dois corpos.
Na verdade, sou um corpo que obrigatoriamente ocupa um espaço.
Suas expectativas são outro corpo que lutam comigo pelo mesmo espaço e eu tenho perdido as batalhas todos esses anos.
Como eu gostaria que os mais fracos sobrevivessem!
Sobre a sobrevivência, seleção natural e semelhantes:
é da natureza dos seres vivos existirem em não-equilíbrio, no chamado estado estacionário dinâmico; possuírem mecanismos internos organizados para extrair energia de seu meio de forma a realizar trabalho útil; serem sensíveis e reagirem às mudanças de contexto a curto e longo prazo a fim de sobreviverem; e serem capazes de auto-reprodução e auto-reparo. É da natureza dos seres vivos serem, por vezes, micro e macroscopicamente complexos, difíceis de prever, de analisar, e às vezes dependerem da própria contradição para continuarem sendo seres vivos.
E fazem tudo isso, surpreendentemente, através do pó de que são feitos.
Eu desenho uma planta baixa.
É um mundo sem porquês, sem cobranças sobre-humanas, sem pressões, até mesmo sem progresso, um mundo onde compromissos não provocam frio na barriga; e lá é natural estar satisfeito com a própria existência sem pressa para acrescentar ou tirar dela coisa alguma. Especialmente, a noção de que é necessário um aparato de acessórios tão grande foi substituída pelo prazer da desistência.
Desistência de tentar ganhar o mundo,
e aí, de repente, todos descobrem, estupefatos, que têm alma.