sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Ana,
a minha primeira vontade é de te dar um abraço, um afago e lamentar contigo: liga não, Ana, o mundo é ruim assim mesmo. 
Mas a quem estamos querendo enganar, né não, Ana? Se eu acredito que pior do que roubarem seus sonhos é terem tirado de você a capacidade de sonhar e acreditar; é não terem dado a chance. Se eu acredito que o que mais dói em você e no mundo não é bem a ferida, e a transgressão, é muito mais a ausência, é o frio.
Ana, às vezes quando você sorri, quando você olha desconfiada de lado, eu sinto uma dor, eu sinto uma dor quando percebo que você é tão bonita, quando vejo que você está se divertindo, porque é como um cenário kafkiano absurdo (nunca leia Kafka, Ana), porque lá fora você sabe do perigo, e aí dentro você também sabe dessa baboseira sentimentaloide de "o mundo é assim mesmo" mas é como se você estivesse se virando, não ligando, e eu não sei nem como te pedir desculpas por isso, e um dia eu li que a gente é responsável por toda a glória e toda a bondade do mundo (leia Dostoievsky, Ana), então eu fico olhando pra você, não olho ao redor, pra as paredes, pra a grama no chão, pra a areia nos pés, eu olho pra você e só, e as palavras vão escapando, as palavras costumavam ser o sentido da minha vida, Ana, mas isso foi antes de me deparar com você e com sua resiliência teimosa, isso foi quando eu ainda acreditava que tudo era uma questão de ter as respostas certas,
e de que me adianta agora, Ana, saber das coisas se isso não me arranca a sensação estranha de que a única forma justa de te dar um abraço e um afago é aceitar que eu não sei de nada, que eu não tenho respostas, e que eu ainda me surpreendo que você não faça pergunta alguma?

Um comentário:

  1. Meu Deus!!! Obrigada por você ser assim, exatamente do jeitinho que é. Te amo!

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